terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Vídeo interessante

Façam suas interpretações:

http://almashortfilm.com/?p=549

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Barbie: mãe solteira e prostituta

Até os meus 10 anos de idade eu acreditava que fazer sexo era o que eu via nas novelas - um homem e uma mulher tiram as suas roupas, se deitam aos beijos numa cama e começam a esfregar suas peles.
Foi numa noite, assistindo ao Criança Esperança de 1994 que meu pai me contou a verdade.
Ao assistir a performance dos bailarinos no palco, Papis disse: "Esse pessoal tá parecendo cachorro quando tá atracado". Sem conseguir visualizar a situação exposta por Papis, perguntei: "Como assim?". Ele disse: "É minha filha, cachorro depois que transa. Tu nunca viu?". Eu disse: "Não. Porque cachorro fica atracado depois que transa?".
Ele, surpreso por eu ainda não ter conhecimento teorico sobre aquilo que anos mais tarde revelou-se para mim como sendo o grande fascínio da humanidade, começou, meio que sem graça, a me explicar os procedimentos técnicos do ato de fazer amor.
A idéia de que um pênis poderia entrar no buraco que existe entre as pernas de uma menina, era algo que já tinha passado antes pela minha cabeça. Mas lembro-me bem que logo descartei essa possibilidade por achá-la nojenta demais. Minha surpresa ao saber que minha idéia estava correta foi grande.
Fiquei muito feliz de saber algo que eu compreendia como sendo um segredo dos adultos.
Fazer sexo e tudo que envolve esta prática não é algo permitido ao mundo das crianças.
E por ser proibido, sempre me despertou profundo interesse.
Apesar de os adultos tentarem preservar uma imagem de inocência nas crianças, nem sempre isso corresponde a realidade.
O que posso falar sobre isso é que eu nunca fui inocente, pura e bondosa.
Minhas brincadeiras solitárias da época da infância eram na verdade grandes momentos de exploração das minhas fantasias eróticas, nas quais eu inventava histórias e personagens com uma criatividade de dar inveja a qualquer roteirista de filme pornô.
Nas tardes vermelhas e quentes que passei em meu quarto, eu frequentemente transformava minha Barbie em uma mulher muito sedutora, que transava em demasia.
Barbie às vezes se descuidava e acabava ficando grávida.
O Ken, seu viril namorado, por mais de uma vez não quis assumir a criança que Barbie carregava, fazendo com que a pobre mulher arcasse com as adversidade pertinentes a vida de uma mãe solteira.
Sem perspectivas de ter como criar seu filho, minha Barbie se prostituiu ainda grávida!

Deus Assassino

Logo depois que a gente nasce uma série de regras começam a ser repassadas a nós. Essas regras nos ensinam como devemos pensar, guiando o nosso raciocínio. A partir daí, começamos a experimentar essas formas de pensar e aplicamos os conceitos que nossos pais (ou alguém que os valha) nos dão.
Quanta criatividade temos nessa fase de verificação de regras!
Penso que a criatividade da criança muitas vezes é inversamente proporcinal à capacidade do adulto de podá-la, para que um dia a criança cresça e se torne tão chata quanto ele.
Lembro de um desses meus momentos de "aplicação de conceitos".
Eu devia ter uns 5 ou 6 anos, estava na cama e minha mãe estava deitada ao meu lado. Era hora de dormir. Nesses momentos ela contava histórias ou cantava. Mas num dia em especial, começamos a conversar sobre os pais dela. Ela me falava de como eles eram e que eles já estavam mortos. Eu, naquela altura de minha vida, já sabia que a morte era algo que existia (pelo menos pra aquelas pessoas que já tinham morrido), mas eu queria entender o porquê das pessoas morrerem, então eu perguntei para minha mãe sobre o ocorrido com meus avós: "Por que o teu pai e a tua mãe morreram?". Minha mãe respondeu-me: "Porque Deus quis". Logicamente conclui: "Então Deus é assassino?!". Minha mãe com a presteza de quem é vigiada por um ser onipotente, onisciente e onipresente disse rapidamente: "Não minha filha, claro que não. Não diga isso!".
Naquele momento aprendi que a sentença "quem tira a vida de alguém é um assassino", não se aplicava a toda circunstância e que a justiça não é igual para todos.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Cadê?

Cadê, cadê o meu filhote, hem? Cadê o filhote de mamãe? Cresceu... sumiu.
Eu ainda lembro direitinho quando eu podia carregar o meu filho no colo... Ah, eu passava o dia todinho com o meu filhote. Dormia junto, dava banhin, lavava a bundinha, o pintin, o suvaquin...
Agora, pôssa, mamãe. Só quer saber de ficar no computador! Passa o dia fora, e nem liga, me deixa aqui, preocupada! Chega em casa, e passa direto, nem fala direito, vai direto pro computador... Nem beija a mamãe... Agora o meu bebezinho já é um bebezão, nem dá mais pra segurar no meu colo!... Ah, eu sinto tanta falta do meu bebezinho, tanta falta. Olha, meu filho, eu penso, tanto, mas tanto em você! Passo o dia todinho orando pro nosso Deus te guiar, abrir tuas portas. Ô meu filho, não esquece de rezar antes de dormir, tá?
Ô, meu deus, eu te amo tanto! É a maior bênção que Deus já me deu. Meu bebê... meu bebezinho...
Cadê a minha criança, que eu carreguei aqui dentro, dei banho, amamentei? Cadê, cadê o meu filhote, hem? Cadê o filhote de mamãe? Cresceu... sumiu!

Prólogo: Começando com mentiras

(Cena a ser feita por uma atriz caracterizada como mulher grávida)

Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!

Ah... como é bom lembrar de quando éramos crianças! Essa época mágica, na qual toda a felicidade do mundo pode caber... numa caixinha de bombons!
Quando tudo e nada eram palavras tão usadas, e não imaginávamos seu real significado... Olhamos as fotos, e as lembranças vêm a tona... Ah, as lembranças! Quanta saudade... dessa fase tão doce, tão segura, que todos vivemos. Dessa fase tão ingênua, tão inocente, quando não existe maldade no coração... A fase que é fonte de nossos imaginários, e nossas emoções. Quanta saudade...!
Não é uma pena que a gente só descubra a infância depois que ela passou? Que ela seja como um sonho do qual só tomamos consciência quando acordamos, já adultos? Ah, se pudéssemos retornar o sonho, tão próximo e tão distante, para revive-lo plenamente, com consciência e os sentidos despertos...

Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Conceitos formais e bobos (wikipedia)

Uma criança é um ser humano no início de seu desenvolvimento. São chamadas recém-nascidas do nascimento até um mês de idade; bebê, entre o segundo e o décimo-oitavo mês, e criança quando têm entre dezoito meses até oito anos de idade. O ramo da medicina que cuida do desenvolvimento físico e das doenças e/ou traumas físicos nas crianças é a pediatria. Os aspectos psicológicos do desenvolvimento da personalidade, com presença ou não de transtornos do comportamento, de transtornos emocionais, e/ou presença de neurose infantil - incluídos toda ordem de carências, negligências, violências e abusos, que não os deixa "funcionar" saudavelmente, com a alegria e interesses que lhes são natural - recebem a atenção da Psicologia Clínica Infantil (Psicólogos), através da Psicoterapia Lúdica. Os aspectos cognitivos (intelectual e social) é realizada pela Pedagogia (Professores), nas formalidades da vida escolar, desde a pré-escola, aos cinco anos de idade, ou até antes, aos 3 anos de idade.

Pra ver toda a baboseira (que pode vir a ser útil dramaturgicamente), clique AQUI.

Pisca-Pisca

A vida, Senhor Visconde, é um pisca-pisca.
A gente nasce, isto é, começa a piscar.
Quem pára de piscar, chegou ao fim, morreu.
Piscar é abrir e fechar os olhos - viver é isso.
É um dorme-e-acorda, dorme-e-acorda, até que dorme e não acorda mais.
A vida das gentes neste mundo, senhor sabugo, é isso.
Um rosário de piscadas. Cada pisco é um dia.
pisca e mama;
pisca e anda;
pisca e brinca;
pisca e estuda;
pisca e ama;
pisca e cria filhos;
pisca e geme os reumatismos;
por fim, pisca pela última vez e morre.
- E depois que morre - perguntou o Visconde.
- Depois que morre, vira hipótese. É ou não é?

Memórias de Emília, Monteiro Lobato

Manoel Barros e a infância

Acho que encontrei um belo trunfo dramatúrgico. Esse cara trata a criança como um ator social pleno, que tem o incrível dom de desconstruir as coisas cristalizadas pelo capitalismo. Vejam:

--
A identificação do poeta com a criança, para Manoel de Barros, se sustenta no fato de que
ambos fazem uso da linguagem como ampliação do mundo não só vivido, mas também
imaginado. Se a palavra é a matéria-prima de que dispõe o poeta para sua criação,
considera que também a criança se utiliza da linguagem para recriar e transfigurar a
realidade:

Com certeza, a liberdade e a poesia a gente
aprende com as crianças.
(Barros, 1999, s/p.)

No descomeço era o verbo.
Só depois é que veio o delírio do verbo.
O delírio do verbo estava no começo, lá onde a
criança diz: Eu escuto a cor dos passarinhos.
A criança não sabe que o verbo escutar não funciona
para cor, mas para som.
Então se a criança muda a função de um verbo, ele delira.
E pois.
Em poesia que é voz de poeta, que é a voz de fazer
nascimentos –
O verbo tem que pegar delírio.
(Barros, 2001b, p. 15)
(...)

A criança, então, para Manoel, não é um ser ingênuo, incompetente, mas sim
inquieto, inventivo e transgressor, capaz de criar um mundo inserido no mundo maior, tal
como o pensamento de Benjamin (1984) sobre a infância. O poeta mostra a incompreensão
do adulto que não ouve a criança, considerando-a como ser incompetente e incompleto, que
ainda não é e que precisa vir a ser, e ignorando a capacidade da criança de estabelecer
semelhanças:

O rio que fazia uma volta atrás de nossa casa era a imagem de um vidro mole que
fazia uma volta atrás de casa./ Passou um homem depois e disse: Essa volta que o
rio faz por trás de sua casa se chama enseada./ Não era mais a imagem de uma cobra de vidro que fazia uma volta atrás da casa. / Era uma enseada./ Acho que o
nome empobreceu a imagem.
(Barros, 2001b, p.25)
Pra ver o artigo inteiro, cliquem AQUI. É muito bom. Leiam principalmente as passagens de poemas dele, acho que é tão forte como o Snoopy, enquanto referência pra dramaturgia.

domingo, 6 de dezembro de 2009

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Boas notas!

ATOR 1: Ontem, fizemos um teste de verdadeiro ou falso, e depois uma prova escrita. Ai, como eu odeio semana de provas! Depois vem as férias, mas depois das férias, vamos ter mais dever de casa, mais provas, mais trabalhos... Ai, meu deus, amanhã tem prova de matemática!

ATOR 2: Eu tenho que tirar 9 nessa prova! Ou vou acabar repetindo de ano... Por que a gente tem que se preocupar tanto com as notas, hem?

ATOR 3: Bom, acho que o propósito de ir à escola é tirar boas notas. Então, quando a gente entrar no convênio, onde o propósito é estudar bastante, a gente tira boas notas e passa no vestibular. E o propósito de passar no vestibular é tirar boas notas na faculdade, pra se formar e poder fazer a pós-graduação. E o propósito disso é se dedicar muito para tirar boas notas! Assim, você pode conseguir um emprego e ter sucesso, e daí você pode se casar. E ter filhos para mandá-los à escola pra tirar boas notas. E assim, eles vão pro convênio pra tirar boas notas pra irem pra faculdade e estudarem muito...

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Cena: Medos

Ator canta, melancólico:

Tinky Winky
Dipsy
Lala
Po
Teletubbies...
Teletubbies...

Atriz - Eu tenho medo.

Ator - Eu tenho medo da infância.

Atriz - Eu tinha medo do escuro.

Ator - Bicho papão, alienígenas, demônios?

Atriz - Eu tinha medo de um anjo...

Ator - Eu tinha medo da musiquinha dos teletubbies.

Atriz canta:

Se essa rua
Se essa rua fosse minha
Eu mandava
Eu mandava ladrilhar...

Ator- Eu fui uma criança bem gorda. Sempre tive os quadris muito largos, e isso conferia a mim uma forma diferente de andar. Uma forma que os outros começaram a achar engraçada. Logo criaram um link: Tinky Winky.

Atriz canta:
Com pedrinhas
Com pedrinhas de brilhantes...

Ator - Eu tinha medo.

Atriz canta:
Para o meu
Para o meu amor passar

Ator - Eu tinha muito medo. Muito medo do inevitável momento em que iria chegar, de manhã cedo, no colégio. Sabia que, aos poucos, as pessoas sorririam, cochichariam umas com as outras, e começariam a cantar a musiquinha, enquanto eu atravessava a rua. Se corresse, seria pior, e muito mais divertido pra eles. Então continuava andando lentamente, do meu jeito.

Atriz canta:
Nessa rua
Nessa rua tem um poste...

Ator - Poste?

Atriz canta:
Que se chama
Que se chama solidão
Dentro dele
Dentro dele mora um anjo
Que roubou
Que roubou meu coração

Atriz e Ator - Esse era um dos meus maiores medos da infância.

Ator - Quando criança, duas vezes por semana havia uma ameaça que me assombrava: a aula de educação física. Haviam os anos em que, logo em janeiro, eu ia ao médico e conseguia um atestado, alegando um problema besta de coluna, que me salvaria, por 365 dias, de viver aqueles momentos. Mas haviam as ocasiões que eu não conseguia.

(Atriz toca tema dos teletubbies com a gaita)

Ator - Certa vez, o professor ordenou que fossem formados dois times, para uma partida de futebol. Dois líderes foram tirados para escolherem, um a um, quem iria jogar em cada lado. Foram escolhendo, um por um, até que sobramos apenas eu, e mais um garoto. Então, um dos líderes chamou o outro garoto. Em seguida o outro virou pra ele, indignado, e brincou:

Atriz 2- PORRA, TU DEIXOU O DEFEITUOSO PRA MIM!

Ator e atriz cantam, ao mesmo tempo:
(Tinky Winky...) Nessa rua, nessa rua tem um poste
(Dipsy...) Que se chama, que se chama solidão
(Lala...) Dentro dele, dentro dele mora um anjo
(Po...) Que roubou, que roubou meu coração

(Ator continua a canção dos teletubbies em vocalize. Aos poucos, Os três atores vão formando a imagem de uma foto de família, na qual Ator é o irmão, Atriz 2 é a mãe, e Atriz é a filha)

Atriz - Esse era um dos meus maiores medos da infância. Durante muito tempo, quando criança, eu achava que tinha um anjo que morava dentro de um poste. Imaginava, numa rua escura, um poste com um buraco e que lá dentro tinha um rosto que me olhava. Às vezes o rosto era do Gonzo, dos Muppets. Era uma das coisas mais assustadoras da minha infância.

(Ator e Atriz 2 fazem vocalize do "Se essa rua")

Atriz - Essa imagem se repetia em um sonho recorrente: Eu, minha mãe e meu irmão no zoológico, um lugar escuro e úmido como aquela rua da música. Em algum momento eu via um muro que era a cela de algum animal, e nela tinha um buraco aonde eu enfiava a mão, eu nunca via o que tinha lá, mas eu sabia que era aquele rosto do poste, talvez o Gonzo.

(Alguém apaga o interruptor de luz, fica escuro, e a música pára)

Atriz - Eu acordava chorando, não lembro porque.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Metas!

Temos data marcada para nossa primeira prévia: 31 de dezembro.

Até o próximo encontro, do dia 10, devemos deixar pronta a dramaturgia. Teremos os seguintes dias de ensaios: 10, 15, 18, 22, 24 e 29.

Vamos trabalhar com colagem. Até agora nosso esboço é:

-Campainhas do teatro como buzina de vendedor de pamonha, significando a voz da mãe;
-Monólogo mãe (Aninha)
-Espadas (Giovana e Haroldo)
-Velha que guarda o filho na caixa, e morre (Haroldo)
"É tu a mãe!" - Passa a bola pra aninha fazer a mãe de costas
-Questionamentos sobre a morte (Giovana)
-Texto do pisca-pisca (dado pelos três), com transparências e retro-projetor
-Cena dos helicópteros, com animação de sombras no projetor
-Música
-Entrada de Corisco, Theflash e Relâmpago
-Cenas cruzadas: de um lado, a cabeça da tartaruga sendo cortada (Haroldo); de outro, o dedo da bailarina (Aninha). No meio, criança brincando com hélice de ventilador mortal (Giovana)
-Encaixar: barbie, educação física, poste.
-Fim: brincando de quem vai ser a mãe, são surpreendidos pela voz da buzina (mãe), mandando voltarem pra casa.

Mote para transição: "Tu é a mãe!", quando houver uma mãe na cena. A pessoa se torna a mãe quando começa a ver as coisas de maneira adulta.

Viabilizar: Ventilador, extensão, retro-projetor, caixa com furos para as espadas, e as "espadas".

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Poste

Se essa rua
Se essa rua fosse minha
Eu mandava
Eu mandava ladrilhar
Com pedrinhas
Com pedrinhas de brilhantes
Para o meu
Para o meu amor passar

Nessa rua
Nessa rua tem um poste
Que se chama
Que se chama solidão
Dentro dele
Dentro dele mora um anjo
Que roubou
Que roubou meu coração

Durante muito tempo quando criança eu passei achando que tinha um anjo que morava dentro de um poste. Imaginava, numa rua escura, um poste com um buraco e que lá dentro tinha um rosto que me olhava. Às vezes o rosto era do Gonzo (Muppets). Era uma das coisas mais assustadoras da minha infância. Essa imagem se repetia em sonho, o meus sonho recorrente: Eu, minha mãe e meu irmão no zoológico, um lugar escuro e úmido como aquela rua da música, em algum momento eu via um muro que era a cela de algum animal, e nela tinha um buraco aonde eu enfiava a mão, eu nunca via o que tinha lá, mas eu sabia que era aquele rosto do poste, talvez o Gonzo. Eu acordava chorando, não sei mais porque.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Sobre o que, de fato, deixamos de ser.




CHILDHOOD (tradução)

Vocês viram minha infância?
Estou procurando pelo mundo de onde venho
Porque eu tenho procurado
Nos "achados e perdidos" do meu coração
Ninguém me entende...
Eles vêem isso como estranhas excentricidades
Porque eu fico por aí brincando
Como uma criança, mas me perdoem...

As pessoas dizem que eu não estou bem
Por eu amar coisas tão simples
Tem sido o meu destino para compensar
Uma infância que eu nunca conheci

Vocês viram minha infância?
Estou procurando pela beleza na minha juventude
Como piratas e sonhos de aventura
De conquistas e reis nos seus tronos

Antes de me julgar,
Tente mesmo me amar
Olhe dentro do seu coração e pergunte
Vocês viram minha infância?

As pessoas dizem que sou estranho desse modo
Por eu amar coisas tão simples
Tem sido o meu destino compensar
Uma infância que eu nunca conheci

Vocês viram minha infância?
Estou procurando pela beleza na minha juventude
Como histórias fantásticas para contar
Os sonhos que eu ousaria, me olhem voando...

Antes de me julgar,
Tente mesmo me amar
A juventude dolorosa que eu tive

Vocês viram minha infância?

Cena

( Atmosfera de sonho. Música de picadeiro. Uma mulher entra arrastando uma caixa, dentro da caixa um homem. O diálogo inteiro acontece como um número de circo em que espadas são enfiadas na caixa. as espadas aparecem em cena uma por vez, caindo de uma árvore no decorrer da cena)

Mulher: Já acordou?

(Finca uma espada na caixa)

Homem: Já.

Mulher: Vem tomar café.

(Finca uma espada na caixa)

Mulher: Vai esfriar, menino.

(Finca uma espada na caixa)

Mulher: Ai esse menino me mata. Já tomou banho?

(Finca uma espada na caixa)

Homem: Já.

Mulher: Esfregou o joelho?

(Finca uma espada na caixa)

Homem: Sim

Mulher: E o umbigo? Esqueceu?

(Finca uma espada na caixa)

Homem: Não.

Mulher: Não tá esquecendo nada?

(Finca uma espada na caixa)

Homem: Não.

Mulher: Mochila?

(Finca uma espada na caixa)

Homem: Tá aqui.

Mulher: Lanchinho?

(Finca uma espada na caixa)

Homem: Tá aqui.

Mulher: E as notas?

(Finca uma espada na caixa)

Homem: Tão aqui.

Mulher: Um sete?

(Finca uma espada na caixa)

Homem: É.

Mulher: Você quer me matar! Você não está estudando!

(Finca uma espada na caixa)

Homem: Matemática é difícil.

Mulher: Nada de especial de natal, mocinho!

(Finca uma espada na caixa)

Homem: Por favor, por favor, por favor.

Mulher: Aonde você pensa que vai? Aonde você pensa que vai?

(Finca uma espada na caixa)

Homem: Sair.

Mulher: Com o vestibular ai na porta?

(Finca uma espada na caixa)

Homem: É.

Mulher: Mas é pra me matar! Depois tá aí chorando. Não vem dizer que eu não avisei!

(Finca uma espada na caixa)

Homem: Não.

Mulher: Não volta tarde!

(Finca uma espada na caixa)

Homem: Talvez.

Mulher: Isso são horas?

(Finca uma espada na caixa)

Homem: Talvez.

Mulher: Ai, meu Deus, não corta mais o cabelo...

(Finca uma espada na caixa)

Homem: Eu corto.

Mulher: Não faz mais a barba...

(Finca uma espada na caixa)

Homem: Eu faço.

Mulher: Não aparece mais aos domingos...

(Finca uma espada na caixa)

Homem: Apareço.

Mulher: Você quer que eu morra!!! (Finca uma espada na caixa)

(Uma mulher cai da árvore das espadas. Fim da cena.)


Este é um video só pra lembrar do número de mágica:

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Texto baseado em sonhos recorrentes

Ele tinha nascido e não era mais do que um pedaço do céu. Como uma boa mãe que se preze tratou das providências de urgência, foi ao porão ainda cheia das dores de parir e do orgulho de filho pronto, feito, sem nenhum dedo, ou orelha, ou braço faltando (como ela era boa naquilo), e buscou no meio das coisas empoeiradas de porão uma caixa. Lixou bem a madeira pra que nenhuma farpa de perigo restasse, limpou, e forrou com jornal. Então pôs o bebê lá dentro, o único depois de tanto tempo de espera. Se pudesse mesmo botava na barriga outra vez, pensou.
Daí que o tempo passa, né?! E passou. O menino era bem gordinho a princípio, visto que não se podia crescer pra cima, então ele tratava de crescer pros lados e em profundidade que era por onde dava. Uma vez me falaram das árvores e funcionou na minha cabeça como uma dessas descobertas que não se esquece, foi dito assim: " As árvores crescem pra cima" e desde então eu sei meio significado da vida, o menino da caixa deve saber do resto.

Daí que o tempo passa, né?! E o menino virou homem, ou algo que lembrasse um homem, sabe aquelas dores de amor que a gente vai engolindo, e engolindo ao longo da vida e vai abarrotando a garganta?! O homem era assim. Ele nunca amara ninguém além da mãe porque também não havia nunca visto outro alguém que não a mãe, às vezes aparecia algum tipo de inseto no armário, que era onde a mãezinha o guardava, e ele podia conversar, mas nunca amara nenhuma dessas criaturas, ele as catava quando passavam por cima da caixa, e enfiava o bicho em um dos cantos do próprio corpo, exprimia até que a barata ou aranha não pudesse mais se mexer dali, e ali ficava, numa das dobras do seu corpo embolotado, foi assim que ele aprendeu a brincar, quem vai dizer que estava errado?
Ás vezes, mas só ás vezes, ele odiava aquela mulherzinha pequena, agora então, já velha e meio suja que sempre lhe cuidou, não sabia por quê mas a odiava. Depois passava porque sempre que aparecia uma coceira aonde ele não alcançava ela estava lá pra coçar com aquelas unhas grandes e dedos compridos, muito diferente dele, era bom a beça, aí ele ficava feliz e amava ela de novo.
Daí que o tempo passa, né?! Um dia a velha mãe sentiu-se mau e resolveu dormir mais cinco minutos antes de se levantar e acordar o "menino", dormiu e não acordou. Quando já era de noite a vizinhança começou a se incomodar com o cheiro, se viva ela já não cheirava tão bem. Foi que dali pra mais tarde apareceu polícia, alguns parentes afastados, funerária e coisa e tal, não teve velório, ela não tinha gente conhecida o suficiente disposta a ficar pra um velório. Os parentes que não a conheciam senão por nome dividiram algumas coisas de valor na casa, depois trancaram tudo e puseram uma placa de Vende-se na porta, alguns meses mais tarde apareceu alguém pra limpar o lugar, mas eu não sei dizer se algum dia o armário voltou a ser aberto.

As crianças lá da rua que até hoje falam em casa assombrada, jogam pedra e correm, rindo.

Meu pai, eu, meus filhos, meus netos... ninguém sairá impune!

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Desenvolver

Enumero aqui coisas que já citamos, mas ainda não desenvolvemos... Podemos resgatá-las como indutores para a criação de cenas, textos, célular dramatúrgicas, etc. Cada qual a seu tempo.


-Pessoas caindo de árvores
-Silêncio torturador na família
-Sonho homem na caixa, mãe não deixa crescer
-Sobre o Deus assassino, e os palavrões
-Universo paralelo imaginário
-Barbie "realista"

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

3º Encontro - Notas bloquinho

Cachorro tem no mundo as liberdades humanas da imaginação da criança, é antropomorfizado.

Spike se destaca dos outros cães, é mais humano como o cara que é diferente, esquisito ou por ser protagonista no olhar da criança.

Crianças agem e pensam "como adultas", inclusive com as inseguranças e problemas da vida

Adultos se identificam mais vendo até pelo fato da roupagem ingênua das coisas

Teatro dentro do cinema (e ao contrário?)

Infância: ñ inocente
medo do desconhecido

_ Não acredito em paraíso infantil

Adulto expondo seus medos p/ criança

Expressão neutra da criança (Haroldo)

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

2º Encontro - Notas do bloquinho

  • Pessoas em árvoras caindo
  • Visualidade: Eletrodomésticos/ animais/ comida (mangueira d'água)
  • Princípios do Clown
  • Lembranças: - Giovana: crianças corrente pra prova
                              - Haroldo: crianças passam perfume pra envenenar a professora
  • Criança Deficiência
  • Criança/ Estudo/ Escola/ Pais
  • Família silêncio
  • Sonho homem na caixa, mãe não deixa crescer
  • Religião
  • Aninha pai/ filho
  • Morte avós, Deus assassino
  • Criança palavrão
  • Lições
Para ver:
- Charlie Brown
- Cría cuervos

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Sobre Relâmpago, Theflash e Corisco

Eram três as tartatugas, assim como éramos três eu, meu irmão e a Andreneide, como são três neste grupo de atores que mais escrevem que outra coisa, três como as hélices de um helicóptero.

Deixando a numerologia de lado, o que importa é que elas fugiram. E quando se trata de uma busca é importante começar do início.
Relâmpago gostava de se esconder embaixo do fogão, Theflash cuidava de explorar toda a redondeza da fazenda como que sempre de vigília para em caso de perigo defender nossas terras, já Corisco só Deus sabe onde ela ia, do mundo das tartaguras eu não sei muita coisa mas num estudo minucioso das imperfeições do casco de um bebê tartaruga uma criança podia ver: Corisco era uma criatura que vivera muito mais do que de fato aparentava, como se tivesse guardado na cabeça a memória de todos os antepassados tartarugos até então. Aí foi assim, um dia meu pai disse:

_ Relâmpago, Theflash e Corisco fugiram.
_ Pra onde?
_ Não sei, minha filha, quando eu vi elas já estavam no portão.

Da porta pra fora da minha casa havia alguns metros de grama bem verde antes da cerca que não deixava os cães fugirem, cerca essa que de nada adiantaria pra três filhotes de tartaruga que cabiam todas juntas na palma da mão de um adulto não muito grande, depois dessa cerca vinha um caminho de terra que deveria ter, imagino eu, 500 metros até o portão da fuga. Anos eu passei me perguntando: Pra onde diabos elas foram? Por que foram? Não as amava o suficiente? Não tinham espaço suficiente? Os hectares de terra eram tantos que elas poderiam levar várias vidas de tartaruga percorrendo sem se intediar. No fundo eu acho mesmo que foi Corisco. Ela liderou a rebelião, nada poderia comportar Corisco. Imagino que o caminho que traçaram neste mundo não foi pequeno ao longo desses anos, a essa altura não devem estar mais perto do que Marte a não ser que tenham ido em direção ao Sol, mas duvido muito, Relâmpago era sensível demais ao calor, gostava do chão frio de debaixo do fogão.

Se alguma de vocês vir este blog saibam que eu espero que estejam bem, minhas queridas. Não estou mais zangada. Podem voltar quando quiserem. Eu entendo que as coisas foram feitas de três e não havia espaço para mim na fuga. Escrevam sempre que puderem!

                                         
Com amor, Mamãe.

sábado, 7 de novembro de 2009

Primeira (de muitas, espero) proposta de encenação

Imagine.

Um quarto imenso, abandonado há muitos anos (pode ser um grande galpão, trabalhado com cenografia. Talvez, com objetos gigantes). Um quarto que parece já ter sido de uma criança. Cheio de brinquedos quebrados, e com as paredes riscadas. Entre os brinquedos há um pequeno helicóptero, velho e enferrujado. O público é convidado a entrar (depois de pagar o justo valor pelo ingresso!), sendo previamente avisados de que cada objeto ali, cada desenho riscado na parede, tem um valor muito especial. "Cuidado onde pisa! Você pode destruir um sonho".

Um quarto que não vê pessoas há um bom tempo. Habitado apenas por insetos. "Cuidado com as carapanãs!", alerta alguém. As pessoas enxergam muito pouco, pois não há energia elétrica ali há muitos anos.

Ouve-se um barulho estrondoso de helicóptero. Uma forte luz invade o quarto pela janela, por onde entram dois velhinhos, carregando lanternas grandes, daquelas bem potentes. Estão ali, por uma missão muito especial: resgatar suas lembranças roubadas! A princípio, a platéia não os vê, vêem apenas as luzes das lanternas, que iluminam desenhos e dizeres enormes nas paredes.

Os dois personagens mostram-se muito emocionados, nervosos e com medo, por finalmente terem chegado até ali. Então, começam a recapitular todos os passos até então. Uma das lanternas se volta para um deles, que começa: "Eu acredito em seres encantados que nos visitam enquanto dormimos...". Explicam como descobriram que aquele quarto é o local para onde as fadas, duendes e helicópteros levam as lembranças roubadas. De repente, as luzes das lanternas falham. Outra luz se acende, no fundo da platéia. É a luz de uma lanterna, presa ao helicóptero de brinquedo. A platéia se surpreende, vendo a única luz do lugar voando sobre suas cabeças, com o som de helicóptero.

Momento de pânico. Os dois velhos se armam com seus inseticidas. Tentam desafiar o helicóptero, exigindo terem suas lembranças de volta. Mas uma forte luz se acende sobre eles! São surpreendidos por uma figura bizarra, saída de dentro de um dos móveis: uma carapanã (o acabamento visual seria pra parecer que uma pessoa pegou objetos normais, como uma capa, um óculos de mergulho, etc).

A partir de então, eles começam uma "batalha". O tempo todo, a carapanã tenta encontrar artifícios para fazê-los dormir, como canções de ninar, cafuné, etc. Depois de verem que os inseticidas não funcionam, eles tentam fazê-la confessar onde estão as lembranças, através de conversas, tentando jogar verde, essas coisas. Ao mesmo tempo, a carapanã tenta impedi-los de entrarem em contato com os objetos, pois sabe que esse contato trará as lembranças de volta. Mas ela falha, e um deles entra em contato com um objeto: uma caixinha de música (por exemplo), que vai levá-lo a uma lembrança esquecida, da infância. Ele tira a bailarina da caixinha, e do pé da boneca começa a escorrer areia.

A cena da lembrança acontece, e quando volta, aconteceu algo terrível: a carapanã conseguiu fazer o outro (o que contou a história da televisão) dormir - de boca aberta! É uma situação desesperadora. Nada pode fazê-lo acordar, agora. As luzes se apagam e volta a surgir o helicóptero de brinquedo, voando, como se fosse invadir a mente do velhinho. Então, o "herói" que sobrou acompanha o helicóptero, para o interior do cérebro do amigo.

Dá-se início a um novo sonho. E é o mesmo sonho, recorrente. Toca Beatles. Quando a pessoa vê onde está, ela é a própria televisão vermelha, e está no carrinho, sendo levada pelo velho, que é o mesmo ator que faz a carapanã. Ele aperta nos botões, fazendo a pessoa mudar de canal, de volume, etc. Ela fica aterrorizada ao ver a condição física na qual se encontra. Só pensa em uma coisa: "Preciso fazê-lo acordar desse sonho! Mas como?".

Bem, eu só pensei até aí. Mas enfim, vou tentar continuar...

Acontece (diferentemente do primeiro monólogo, que é apenas uma narração descritiva), a cena do menino correndo atrás do cara com o carrinho de cimento com a televisão vermelha (que, na verdade, é o outro amigo) em cima. O mesmo som de helicóptero do início da peça, bem forte, volta, mas dessa vez, com a ajuda da própria TV o menino os alcança. Os três atores se transformam em um helicóptero - cena apoteótica! - e vão voar até suas lembranças.

Traímos o espectador. A trama se rompeu, se partiu, e agora, entramos nos depoimentos mais delicados, engraçados ou não. Os personagens voltam à infância, expondo suas lembranças pessoais. As lembranças vão passando de monólogos isolados pra uma coisa interrelacionada, até se tornarem uma coisa só. Até aí, expomos todos os nossos principais argumentos.

E tudo termina com eles brincando, mesmo, controlando o helicóptero de brinquedo, brincando de fingir que são carapanãs, de dançar, etc. Uma coisa bem regressão, ode à infância mesmo, foda-se. =)

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Dramaturgia das Pulsões?

Andei lendo um pouco à respeito e me pergunto se o que estamos fazendo não tem algumas semelhanças com dramaturgia das pulsões.

Dramaturgia das Pulsões


Autor: Felipe Chusyd[i] - firosyd@uol.com.br
Resumo

A atenção do dramaturgo ou do roteirista de ficção tem atração pelo acontecimento pontual, pelo factual que emerge da condição humana e de suas relações. Os personagens são apreendidos pelo seu olhar, cuja característica principal é o poder de profundidade ou corte. Uma espécie de retalho na performance do personagem em dada situação, o que irá proporcionar ao autor vê-lo em sua própria mente dançando e costurando uma trama que, no mais das vezes, ele sequer imagina. Disso nasce a simbiose entre um e outro. Uma aventura ao inconsciente humano, quase que de forma intercambiante.
Palavras-chave: Dramaturgia, Psicanálise, Inconsciente, Personagem, Diálogos.

(...)

Agora, no entanto, vamos nos ater ao processo microcósmico de desdobramento desses fatos ficcionais. Aliás, convém lembrar que, ficção, é uma realidade inventada. Mesmo fabulada, copiamos o modelo real conhecido pelos sentidos como forma ideal de se partir para o mundo da imaginação e criar, à feição de um demiurgo, situações e fatos dramáticos (aqui incluindo a comédia) que revelarão incidentes a personagens vinculados a uma ação interior em busca de alguma meta pessoal e intransferível.


Assim, dos fatos psicológicos, morais e sociais que geram o conteúdo de uma história, precisamos evoluir para outro estágio da fabulação, que podemos batizar de dramaturgia das pulsões. Mas, cabe salientar, que não objetivamos inventar apenas mais um nome a troco de nada, senão realçar a veia instintual por onde irão trafegar elementos essenciais da construção dramática de uma história dentro da qual ganharão amplo destaque as descrições de imagens, as ações, os comportamentos, as emoções e as falas de personagens na forma de anotações objetivas e claras que, ao final do processo, formará uma composição dramático-literário de nome Roteiro, cujo objetivo principal, se se tomar a sua razão de ser, será servir a uma produção audiovisual contando com outros artistas e técnicos que irão dar vida ao espetáculo, e estes são conhecidos como atores, produtores, diretores, figurinistas, cenógrafos, etc.

(...)

Na dramaturgia, o autor está sempre buscando uma relação sentimento-ação. Quer dizer, o personagem é o sujeito da ação em razão de algo subjetivo. Mesmo que advenha de um conflito explícito com algum outro personagem, o sujeito da ação interioriza o elemento causador da emoção e reproduz sua característica instintual, seu caráter menos ou mais impetuoso, de modo a revelar seu tipo de personalidade[v]. É um exercício afetivo-intelectivo em que o autor canaliza sua veia emocional ao conjunto intelectivo operante para, numa transferência adequada e ajustada, sentir seu personagem em ação, dentro dele, como se ele autor fosse um corpo sempre disponível para ser ocupado por uma entidade sensível e atuante, motivada e desejosa de conseguir que sua razão de ser ou existir prevaleça.
(...)
 
O trabalho de desenvolvimento de um tecido que forma um argumento dramático propicia ao autor tomar pé das situações e fatos que vão tecendo a teia dramática de sua história, mas, com uma dramaturgia instintual, o que prevalece é tomar consciência do que ocorre com o íntimo dos personagens em ação, investigando suas pulsões para que seus contrastes simbólicos transpareçam de modo inequívoco, o que vai dar margem a interpretações diferenciadas a partir das cenas representadas pelos sujeitos da ação dentro de um hipotético roteiro.


Convém dizer que a dramaturgia das pulsões pode se valer de representações qualitativas no desenrolar da ação dramática. Em outros termos, quando desdobramos os fatos a partir de enfoques microcósmicos como a cena propriamente dita, estamos andando em um terreno conhecido, ou seja, no terreno humano, das emoções, do intelecto e dos instintos. Pode ser difícil separar essas áreas quando enfocamos os personagens em ação, mas é possível perceber os graus variáveis pelos quais esses elementos se ajustam quando pensamos no processo dinâmico que é a própria vida da personalidade frente às situações com se depara.

Poderíamos dizer, neste caso, que a situação dramática é como uma cadeia de eventos da qual se sobressaem aspectos da humanidade em seu vigor instintual, emocional e intelectual.

(...)
 
Interessante notar que a dramaturgia das pulsões, quando analisadas a posteriori, ganham um valor especial, muitas vezes revelando o absurdo da condição humana em suas contradições e limitações, como acontece de fato para a grande maioria da raça humana, refém de suas paixões, comodidades, idiossincrasias, hábitos e instintos.
Mas para quem quer tomar esses processos criativos de desdobramento de fatos ou situações dramáticas, deve perceber que a própria natureza do conhecimento humano e psicológico prevalece na reprodução dos acontecimentos dramáticos. Eles pontuam desejos e necessidades prioritárias no momento da iluminação dos personagens atuantes. Naquela fração de tempo em que eles vivem há desejos ou pulsões atuantes e determinantes de novas situações e conseqüências. Como o é a própria tessitura de uma telenovela, por exemplo, pela qual os acontecimentos já trazem consigo as conseqüências de sua incidência. São pulsões da vida, naturais e desencadeadoras de novos fatos pontuais que vertem os sentimentos, pensamentos e desejos de seus personagens.

  Para ver o texto todo clique AQUI!

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Helicóptero-fantasma

Trem-fantasma

"Depois q a gente cresce, as pessoas nos fazem crer q perdemos uma inocencia q nunca tivemos"
(Giovana, numa conversa de MSN)

Quando o ser humano está no início do seu (nunca acabado) processo de formação - ou seja, a infância - qual a sua relação com o medo? Como esse sentimento se constitui, se constrói e desconstrói? Entre as muitas coisas que a vida monta e desmonta em nós durante o tempo, estão os medos. Vamos crescendo e sendo educados a ter ou não ter medo de certas coisas, por meio de padrões pré-estabelecidos. Por exemplo: medo de cobra, medo do demônio, medo de insetos.

Uma das coisas que as crianças têm de fantástico é que, até certo momento, essas convenções não estão definidas. Na infância, a gente não sente medo de coisas que os adultos sentem; e construímos medos nossos, só nossos, pessoais e significativos.

Assim, vemos muitas crianças que se divertem brincando com insetos ( e, algumas vezes, assustando os adultos com isso!), sendo que a mesma criança, durante a vida, vai aprender que insetos são nojentos, e que se deve manter distância deles, ou matá-los. Da mesma forma, antes de ceder a essas convenções, a criança pode desenvolver um medo terrível por uma coisa trivial e comum, como um quadro na parede.

Crescemos, e esquecemos o porquê de alguns medos, deixando-os de lado. Em compensação, desenvolvemos outros. Aí, quando se vê uma criança com medo de algo besta, como uma máscara de palhaço, não se compreende a profundidade de significado que isso pode ter. Crianças são constantemente subestimadas. Pode-se pensar: "Ô, tadinho! Ainda não descobriu o que a vida realmente tem de perigoso". Será que sabemos, de fato, o que é perigoso?

Quando criança, eu dormia de frente para a janela, e podia ver a silhueta de roupas penduradas do lado de fora. Aquilo me deixava num estado de angústia, porque muitas vezes, eu enxergava alienígenas nas roupas. Morria de medo que um alienígena aparecesse na minha janela. Não tinha tanto medo em outros momentos do dia, e em outros lugares... mas tinha muito medo, especialmente, vendo aquela janela, sob aquele ângulo, antes de dormir.

O porquê disso não sei. Mas sinto que o medo, assim como outros sentimentos, na infância, me fazia ser muito mais eu mesmo. Não havia cascas desenvolvidas pra me proteger: o miolo do ser estava praticamente exposto. Os alienígenas me faziam ser eu. Hoje, eu sou só uma construção.



Crescer é perder.
  

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

No fundo, bem lá no fundo, a gente não muda nada!

A vida toda a gente costuma escutar que a experiência adquirida ao longo dos anos faz a gente amadurecer, que com o tempo a gente vai aprendendo a olhar menos pro nosso umbigo e mais para os outros, que a gente aprende a esperar o tempo certo das coisas acontecerem, que a gente aprende a aceitar aquilo que a gente não pode moldar de acordo com o nosso ideal. Eu, sinceramente, tenho cá minha dúvidas.
Cada vez mais eu acredito que a única mudança que ocorre é apenas na forma como buscamos realizar nossos desejos primordiais e que eles permanecem inalterados por toda a nossa vida.
Amadurecimento na verdade é fazer coisas diferentes das que faziamos quando éramos crianças pra atingir os objetivos que carregamos desde lá.
O que acontece é que quando a gente cresce os caminhos que somos obrigados a percorrer para atingir os nossos imutáveis objetivos se tornam mais longos, sendo frequentemente necessário manter velados tais caminhos e principalmente o seu fim - o desejo alcaçado -, negando uma postura infantil e fingindo ser um adulto que no fundo nunca seremos. A vida adulta é portanto uma utopia e nossas longas pernas de adulto foram feitas única e exclusivamente para podermos percorrer esse caminho que se alongou desde a infância.
Se aos 5 anos eu apenas entortava angelicalmente minha cabeça para o lado e conseguia a atenção e amor de todos, aos 25 anos eu vou fingir que não ligo para a opinião dos outros, pra quem sabe assim eles me admirarem por julgarem que não preciso deles.
Se antes eu dizia na cara da minha amiguinha de maternal que ela era chata por não me emprestar seus brinquedos, hoje quando uma amiga me nega um favor eu digo a ela que compreendo a sua postura e cinco minutos depois começo a falar mal dela para qualquer amigo em comum.
Se antes eu disputava aos tapas os lugares próximos a professora na sala de aula, hoje eu boicoto de variadas formas meu colega de empresa até que eu atinja um cargo melhor do que o dele.
Todo adulto é um mentiroso.
A verdade é que ninguém amadurece!
Então, vamos todos assumir a nossa condição de crianças birrentas e vamos sair para as ruas trajando o uniforme que nós convém: a fralda.
Vamos todos urinar e defecar em paninhos felpudos e esperar que nossas mães venham nos trocar!
Vamos implorar, com choros e beicinhos, que nos amem e nos alimentem!
Vamos ser mais sinceros com a vida!

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Princípios Básicos no Teatro

Questionar condutas estabelecidas e validadas como as mais adequadas dentro da sociedade em que vivo sempre foi uma constante em minhas ações. Sempre quis entender o sentido do permitido, e o pavor de algumas pessoas (das quais não me excluo) diante do que não é consenso de aceitação.
Dentre as possibilidades de ações questionadoras da minha realidade social encontra-se o teatro.
Quando penso no teatro em que desejo trabalhar, penso nele como uma poderosa ferramenta de questionamento dos valores e normas sociais.
O teatro, tal qual um espelho, nos mostra um recorte da realidade. No entanto, ele tem o potencial de ir além de um simples reflexo de um espelho comum, pois pode ser manipulado de modo a tentar tornar evidente ao espectador, aspectos de sua realidade que ele não consegue enxergar tão facilmente em seu cotidiano.
Contudo, penso que antes de utilizar o teatro como uma ferramenta de questionamento da realidade, seria interessante o questionamento de algumas normas frequentemente observadas como estabelecidas dentro dele próprio.
Assim sendo, destaco a seguir alguns pontos referentes ao que se têm comumente como princípios básicos no teatro.

Princípios variam de acordo com o estilo? Ou existem princípios básicos comuns a todos os estilos?
  • Não falar de costas -> o sentido estaria no fato de que o rosto seria mais expressivo do que as costas, ou estaria relacionado a projeção da voz?
  • Manter os elementos cênicos (cores, luz, objetos e atores) distribuidos de forma a manter um equilíbrio estético.
  • Energia intencionalizada -> não disperdiçar energia em ações que "não comuniquem" (criação de ambiente artificial).
  • O mais importante é a reação do ator e não a sua ação -> ajuda no controle da ansiedade.

Um teatro que experimente brincar com estes princípios seria uma excelente oportunidade de investigação da validade dos mesmos. Então, assim como as crianças que utilizam as brincadeiras como forma de reconhecimento e experimentação das normais sociais, vamos brincar de fazer teatro?

sábado, 31 de outubro de 2009

Texto baseado no relato de Eduarda.

Era uma avó do tipo sanguinária. Uma velha dessas que já devia ter gasto pela vida inteira tudo o que havia de bom em seu espírito. Lembro que quando ela se aproximava, eu já sentia um misto de angústia e medo. Não era respeito: era medo! Eu olhava para cima, e tinha vontade de puxar os bicos de seus peitos para baixo, e me pendurar, até fazê-la gritar!

Uma velha inteiramente dedicada ao suado trabalho de destruir sonhos. Arrancava-os, com as próprias mãos, não importando a quantidade de sangue derramado.

Eu tinha quatro anos. Estava com meus primos, brincando no quintal. Muita areia, resto de barro, algumas mangas caídas, algumas folhas secas, árvores e galinhas, fazendo a festa, com muita sujeira, numa manhã feliz. Eu gostava de correr atrás das galinhas. Era como se elas estivessem brincando, junto comigo. Naquela altura da vida, eu ainda não fazia idéia de que elas corriam para fugir da morte.

Tínhamos um novo amigo: Frederico, o "tartarugo". Ele era mais na dele, meio tímido, parecia um tanto mal-humorado, até. Não entrava muito nas nossas brincadeiras. Mas era tão raro ter um bicho daqueles, tão diferentão, que não tinha como não nutrir por ele um sentimento especial. Nos divertíamos tocando em sua testa, para fazê-lo se esconder dentro do casco. Era a única brincadeira que sabia. Deixamos ele dentro de casa, descansando, enquanto fomos brincar no quintal.

A algazarra toda se interrompeu quando vimos entrar na casa, um homem estranho. Era todo grandão, e tinha a maior cara de mau. Fizemos silêncio, largamos as brincadeiras e fomos espiar pelos vidrinhos que tinham na parede da casa. Haviam duas bacias no chão. A velha as encheu de água. Frederico estava com eles, sem ter para onde nem como escapar. Antes que pudesse fugir para dentro de si mesmo, a faca atravessou seu pescoço. Numa fração de segundos, a janela que estava diante de mim foi tomada por uma mancha vermelha, escura e nojenta. Era como se eu presenciasse a morte de um amigo.

A cabeça foi para uma bacia d'água, e o corpo, para outra. E, com a lardeza de uma tartaruga, assim como uma ferida, que mesmo para uma criança, demora - sim! - para cicatrizar; a morte de Frederico foi terrivelmente lenta. Durante horas, o corpo, jorrando sangue, tentava sobreviver. As patas se movimentavam contra a água. Lentamente. Pausadamente. Durante horas.

No início da tarde, o almoço foi servido. Eu, e as outras crianças, ficamos de luto, e nos recusamos a beber do nosso próprio sangue.

Hoje, eu tenho vinte e um anos, e acho que a vida já gastou boa parte do que havia de bom em mim.

Texto como condutor de cena

É sabido que quando a gente é pequeno o nosso corpo é composto por cabeça, tronco, membros e toda e qualquer possibilidade. Bem, tudo o que eu sei é que eu era feita de cabeça, tronco, membros, e o dedo mindinho do pé direito.

Na canoa cabiam: eu, meu irmão, e a Andreneide; o que já é muito levando em consideração que o resto da cidade podia abrigar além de nós cerca de mais uns 7 moradores (meu pai, minha mãe, nossos três cachorros, e outras duas familias que não se conheciam). Depois do passeio no rio do quintal da minha casa, meu irmão tomara ares de responsabilidade que se deve esperar de um garoto de dez anos e pediu que nós, donzelas, permanecêssemos na canoa enquanto ele tratava das formalidades em aportar, Andreneide acostumada a ser babá e não donzela rapidamente saltou de lá para a ponte como apenas uma Andreneide poderia fazer. Pensei cá com meus botões ( e entenda isto como uma metáfora pois eu falo de um tempo em que ainda não existiam botões em mim, eu andava de calcinha na fazenda):

_ Eles vão me deixar na canoa e correr.

Muito esperta que era tratei de pôr o pé na borda da canoa enquanto ela se aproximava da ponte, pois bem, terminei de escalar toda a madeira que envolvia o processo e sai andando vitoriosa como uma dessas coisas que cresce. Quando olhei pra trás vi meu irmão terminando de amarrar nossa recente aventura no trapiche e vi Andreneide, distraída, com a cara que ela sabia fazer de melhor que era de Nada, vi também, uma mancha de sangue no chão que vinha da distancia da canoa até o meu pé, junto com ela chegou no pé um grito e uma dor que eu só fui entender direito o que era anos depois, era a falta.


_ Meu péééééééééééééééé!

A canoa e a ponte haviam arrancado um pedaço do meu dedo mindinho do pé direito! Elas comeram meu dedinho! E dentre as partes constituintes de uma criança um dedo mindinho é um pedaço bem maior dela quando adulta, é um saco de planos, como se o corpo fosse um recipiente hermético que quando perde a tampa, dedo mindinho do pé direito, ele vaza, escorre, vaporiza, voa, helicóptero.

Assim aos quatro anos de idade eu já sabia: EU NUNCA VOU SER BAILARINA!!!!!!!!

Meu irmão me carregou pelos hectares que separavam o rio da casa enquanto uma série de futuros me escorria e pingava na grama e na bosta da minha cidadinha.

Hoje afinal, o que é um pedaço de dedo mindinho do pé direito pra quem cresceu? Não sei não...

Mas eu não sei dançar.


quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Primeiro indutor dramatúrgico: infância, sonho e helicóptero

(Cena a ser feita por um ator com antenas na cabeça. Podem ser antenas de inseto, de televisão, de chapolin, etc.)

Eu acredito em seres encantados que nos visitam enquanto dormimos. Eu sei, e posso provar. São de três tipos: os duendes, as fadas, e os helicópteros. Eles são muito pequeninos, e estão em todos os lugares, disfarçados de carapanãs. Sim! Esses danados! Mas agora já os descobri: São ladrões de lembranças. É, te juro! Quando caímos no sono, eles se aproximam, e, depois de se certificarem de que não estamos fingindo e que estamos realmente dormindo, começam a pôr seus planos em ação. Tiram suas fantasias de carapanã com um ziper secreto que têm na barriga, e se preparam para começar o trabalho.

Cada um desses seres encantados tem preferência por um tipo de pessoa: Quando tudo já está preparado para o bote, eles se organizam em linhas de ação: os duendes seguem por via terrestre, e escalam os indivíduos até penetrar por seus ouvidos. As fadas, aladas, têm uma preferência maior pelas narinas. Já os helicópteros se restringem apenas àqueles que dormem de boca aberta, invadindo garganta adentro.

Eu sou do tipo que dorme de boca aberta. ¬¬

Durante toda a minha vida, fui surpreendido por momentos em que o sono parece roubar, violentamente, das minhas mãos, e da minha mente, descobertas íntimas sobre a minha própria existência. Muitas vezes me senti traído, violado, como se alguém tivesse aberto a minha cabeça durante o sono e tivesse me roubado alguma lembrança preciosa. Hoje eu sei! São eles! Os helicópteros! Os desgraçados entraram na minha cabeça, e tiraram do meu cérebro as lembranças!

Tá olhando o que? Eu tenho provas, tá? As minhas suspeitas começaram há mais ou menos quinze anos atrás. Foi em um sonho...

Eu era criança, e no pátio de casa, minha cadela Punky ainda lembrava uma pulguinha saltitante e feliz. Era uma manhã comum de sábado, e surgiu, na frente da minha casa, um senhor feliz, com um carrinho, desses de carregar cimento, com uma televisão vermelha em cima. Eu abri o portão, subi no carrinho, e fiquei assistindo a televisão vermelha, enquanto o senhor levava o carrinho, com eu e a tv dentro, pra passear.

Isso era uma coisa tão comum... eu já via aquela TV vermelha, e aquele senhor há muito, muuuuito tempo. E passear vendo TV num carrinho de cimento pelas ruas do conjunto onde morava era super normal! De repente, percebi que estava prestes a voar! Mas aí, bum! Quando vi, estava acordando de mais um sonho. Hunf! Desgraçados! Senti a vida se virando violentamente contra mim, e me virando de cabeça pra baixo, sacudindo até fazer essa lembrança cair, como uma moeda. De repente, o destino vira pra mim e me diz: "sabe aquela televisão, aquilo que é tão comum e verdadeiro pra ti, e pra tua vida? Pois é: foi só um produto da tua imaginação fértil! Um sonho besta, que durou alguns minutinhos bestas, que nunca vão voltar. NUNCA! Ouviu bem?"

Durante quinze anos, eu carreguei comigo essa neura. Eu sempre tive a certeza de que a televisão vermelha existe, e que o velhinho do carro de cimento está levando crianças por aí pra passear, até hoje. Mas foi na noite de ontem, que eu tive a grande descoberta!

Na noite de ontem, eu tive um sonho. Sonhei que estava, novamente, no pátio da minha casa, numa manhã comum de sábado. Só que agora eu já tinha barba, e a minha cadela já carregava um caranguejo preto embaixo do rabo. Era estranho, porque o sol brilhava, mas havia um silêncio profundo e pleno. Ouvi o som de Beatles, tocando, bem longe. Era She Loves You. Curioso, abri o portão, e resolvi seguir esse som. Quando pus os pés na rua, vi, bem de longe, uma silhueta inconfundível. Era ele! O velho com o carrinho de cimento com a televisão vermelha em cima! E, cara, tava passando Beatles! Imediatamente, corri, com todas as forças que tinha. Simplesmente corri, e o silêncio cedeu lugar para a batida da música da TV em compasso com meus passos nervosos e minha respiração ofegante. O meu corpo atravessou o vento numa velocidade incrível, em busca da minha verdade, que eu sempre soube que ninguém poderia me tirar. O som do vento, da minha respiração, da TV e de uma vida inteira se passando entre um ouvido e outro cresceu tanto a ponto de se tornar um barulho ensurdecedor. O vento ficou cada vez mais forte, e, quando percebi, por trás do muro apareceu ele: o Helicóptero! Era gigantesco. Um foco de luz se acendeu sobre o velho com o carrinho. Imediatamente, um enxame de carapanãs surgiu de dentro dos esgotos, até formarem uma imensa nuvem preta, e eram tantas, que levantaram o carrinho com o velho e a TV dentro. Sumiram por trás das nuvens, num piscar de olhos.

Percebi, então, que os malditos deixaram cair algo fundamental: A antena. De repente, o céu começou a entrar em interferência, como uma TV mal sintonizada. Percebi: Eu estava prestes a acordar. Sem pensar duas vezes, me atirei no chão empoeirado, e me agarrei, com todas as forças, naquela antena.

(A partir daqui, ator vai colocando pedaços de palha de aço nas pontas das antenas)

Quando acordei, levantei de sobressalto, e fui me olhar no espelho. Foi quando eu tive plena certeza. É isso. Isso mesmo. Agora tudo faz sentido.

Primeiro Encontro - Notas do bloquinho

1ª Reunião

> Questionário Giovana.
> 1º indutor dramatúrgico - Texto, haroldo, sonho, tv.
> Lembrança minhoca - Sonho muppets
> Texto Caio Fernando de Abreu
> Visões / Crise criança     x   Visões / Crise adulto
>  Power Ranger
> Conspiração
> Jogar com os medos
> Universo Haroldo (imaginação)
> Tartaruga / barata sem cabeça

> Próxima reunião:
. Trazer texto barbie e dedo.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Primeiro indutor conceitual

Helicóptero: Termo originado do grego "asa em parafuso". Definição dada à aeronave que produz suas reações aerodinâmicas (tração e sustentação) por meio de uma asa rotativa denominada rotor.