Imagine.
Um quarto imenso, abandonado há muitos anos (pode ser um grande galpão, trabalhado com cenografia. Talvez, com objetos gigantes). Um quarto que parece já ter sido de uma criança. Cheio de brinquedos quebrados, e com as paredes riscadas. Entre os brinquedos há um pequeno helicóptero, velho e enferrujado. O público é convidado a entrar (depois de pagar o justo valor pelo ingresso!), sendo previamente avisados de que cada objeto ali, cada desenho riscado na parede, tem um valor muito especial. "Cuidado onde pisa! Você pode destruir um sonho".
Um quarto que não vê pessoas há um bom tempo. Habitado apenas por insetos. "Cuidado com as carapanãs!", alerta alguém. As pessoas enxergam muito pouco, pois não há energia elétrica ali há muitos anos.
Ouve-se um barulho estrondoso de helicóptero. Uma forte luz invade o quarto pela janela, por onde entram dois velhinhos, carregando lanternas grandes, daquelas bem potentes. Estão ali, por uma missão muito especial: resgatar suas lembranças roubadas! A princípio, a platéia não os vê, vêem apenas as luzes das lanternas, que iluminam desenhos e dizeres enormes nas paredes.
Os dois personagens mostram-se muito emocionados, nervosos e com medo, por finalmente terem chegado até ali. Então, começam a recapitular todos os passos até então. Uma das lanternas se volta para um deles, que começa: "Eu acredito em seres encantados que nos visitam enquanto dormimos...". Explicam como descobriram que aquele quarto é o local para onde as fadas, duendes e helicópteros levam as lembranças roubadas. De repente, as luzes das lanternas falham. Outra luz se acende, no fundo da platéia. É a luz de uma lanterna, presa ao helicóptero de brinquedo. A platéia se surpreende, vendo a única luz do lugar voando sobre suas cabeças, com o som de helicóptero.
Momento de pânico. Os dois velhos se armam com seus inseticidas. Tentam desafiar o helicóptero, exigindo terem suas lembranças de volta. Mas uma forte luz se acende sobre eles! São surpreendidos por uma figura bizarra, saída de dentro de um dos móveis: uma carapanã (o acabamento visual seria pra parecer que uma pessoa pegou objetos normais, como uma capa, um óculos de mergulho, etc).
A partir de então, eles começam uma "batalha". O tempo todo, a carapanã tenta encontrar artifícios para fazê-los dormir, como canções de ninar, cafuné, etc. Depois de verem que os inseticidas não funcionam, eles tentam fazê-la confessar onde estão as lembranças, através de conversas, tentando jogar verde, essas coisas. Ao mesmo tempo, a carapanã tenta impedi-los de entrarem em contato com os objetos, pois sabe que esse contato trará as lembranças de volta. Mas ela falha, e um deles entra em contato com um objeto: uma caixinha de música (por exemplo), que vai levá-lo a uma lembrança esquecida, da infância. Ele tira a bailarina da caixinha, e do pé da boneca começa a escorrer areia.
A cena da lembrança acontece, e quando volta, aconteceu algo terrível: a carapanã conseguiu fazer o outro (o que contou a história da televisão) dormir - de boca aberta! É uma situação desesperadora. Nada pode fazê-lo acordar, agora. As luzes se apagam e volta a surgir o helicóptero de brinquedo, voando, como se fosse invadir a mente do velhinho. Então, o "herói" que sobrou acompanha o helicóptero, para o interior do cérebro do amigo.
Dá-se início a um novo sonho. E é o mesmo sonho, recorrente. Toca Beatles. Quando a pessoa vê onde está, ela é a própria televisão vermelha, e está no carrinho, sendo levada pelo velho, que é o mesmo ator que faz a carapanã. Ele aperta nos botões, fazendo a pessoa mudar de canal, de volume, etc. Ela fica aterrorizada ao ver a condição física na qual se encontra. Só pensa em uma coisa: "Preciso fazê-lo acordar desse sonho! Mas como?".
Bem, eu só pensei até aí. Mas enfim, vou tentar continuar...
Acontece (diferentemente do primeiro monólogo, que é apenas uma narração descritiva), a cena do menino correndo atrás do cara com o carrinho de cimento com a televisão vermelha (que, na verdade, é o outro amigo) em cima. O mesmo som de helicóptero do início da peça, bem forte, volta, mas dessa vez, com a ajuda da própria TV o menino os alcança. Os três atores se transformam em um helicóptero - cena apoteótica! - e vão voar até suas lembranças.
Traímos o espectador. A trama se rompeu, se partiu, e agora, entramos nos depoimentos mais delicados, engraçados ou não. Os personagens voltam à infância, expondo suas lembranças pessoais. As lembranças vão passando de monólogos isolados pra uma coisa interrelacionada, até se tornarem uma coisa só. Até aí, expomos todos os nossos principais argumentos.
E tudo termina com eles brincando, mesmo, controlando o helicóptero de brinquedo, brincando de fingir que são carapanãs, de dançar, etc. Uma coisa bem regressão, ode à infância mesmo, foda-se. =)
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