terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Manoel Barros e a infância

Acho que encontrei um belo trunfo dramatúrgico. Esse cara trata a criança como um ator social pleno, que tem o incrível dom de desconstruir as coisas cristalizadas pelo capitalismo. Vejam:

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A identificação do poeta com a criança, para Manoel de Barros, se sustenta no fato de que
ambos fazem uso da linguagem como ampliação do mundo não só vivido, mas também
imaginado. Se a palavra é a matéria-prima de que dispõe o poeta para sua criação,
considera que também a criança se utiliza da linguagem para recriar e transfigurar a
realidade:

Com certeza, a liberdade e a poesia a gente
aprende com as crianças.
(Barros, 1999, s/p.)

No descomeço era o verbo.
Só depois é que veio o delírio do verbo.
O delírio do verbo estava no começo, lá onde a
criança diz: Eu escuto a cor dos passarinhos.
A criança não sabe que o verbo escutar não funciona
para cor, mas para som.
Então se a criança muda a função de um verbo, ele delira.
E pois.
Em poesia que é voz de poeta, que é a voz de fazer
nascimentos –
O verbo tem que pegar delírio.
(Barros, 2001b, p. 15)
(...)

A criança, então, para Manoel, não é um ser ingênuo, incompetente, mas sim
inquieto, inventivo e transgressor, capaz de criar um mundo inserido no mundo maior, tal
como o pensamento de Benjamin (1984) sobre a infância. O poeta mostra a incompreensão
do adulto que não ouve a criança, considerando-a como ser incompetente e incompleto, que
ainda não é e que precisa vir a ser, e ignorando a capacidade da criança de estabelecer
semelhanças:

O rio que fazia uma volta atrás de nossa casa era a imagem de um vidro mole que
fazia uma volta atrás de casa./ Passou um homem depois e disse: Essa volta que o
rio faz por trás de sua casa se chama enseada./ Não era mais a imagem de uma cobra de vidro que fazia uma volta atrás da casa. / Era uma enseada./ Acho que o
nome empobreceu a imagem.
(Barros, 2001b, p.25)
Pra ver o artigo inteiro, cliquem AQUI. É muito bom. Leiam principalmente as passagens de poemas dele, acho que é tão forte como o Snoopy, enquanto referência pra dramaturgia.

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